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Sete décadas de memória e identidade: a escola japonesa que une Japão, Paraguai e Brasil na fronteira

  • MaisChá.com.br
  • 10 de dez.
  • 2 min de leitura

Numa fronteira onde línguas se misturam como cores ao vento, existe um lugar que guarda histórias, sonhos e memórias: a Escola Japonesa de Amambay, em Pedro Juan. Uma escola simples, mas grandiosa — quadrilíngue, poliglota por natureza, alma e propósito. Ali, o japonês, o espanhol, o guarani e o português não competem; eles convivem, se fortalecem e se entrelaçam como famílias que se escolhem.


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Há quase 70 anos, quando a região do Chiriguelo ainda respirava passos tímidos de um futuro incerto, um grupo de japoneses que havia chegado ao Brasil pela longínqua costa de Santos decidiu erguer mais do que um prédio. Eles ergueram um lar para a memória. Um abrigo para a língua materna. Uma promessa silenciosa: não deixar a cultura desaparecer. A escola nasceu do desejo de preservar disciplina, educação e identidade — um gesto de amor de imigrantes que encontraram na fronteira um novo começo.



Com o tempo, a instituição ganhou força, raízes e novos rostos. Mudou-se para o centro de Pedro Juan, mas nunca perdeu a essência plantada no Chiriguelo. Hoje, mais de 60 alunos caminham por seus corredores, carregando nos olhos o brilho da curiosidade e nos lábios o esforço diário de aprender um idioma que exige respeito, paciência e dedicação. Quatro anos — esse é o mínimo para compreender o básico do japonês. Mas quem passa pela escola aprende muito mais do que palavras: aprende valores, aprende mundo.


Hikaro chegou do Japão em janeiro
Hikaro chegou do Japão em janeiro

Entre esses professores e alunos está Hikaro, que chegou do Japão em janeiro. Traz na bagagem a missão de ensinar, mas também o desafio de aprender português — tarefa que ela admite com sinceridade: “Não é fácil”. Mesmo assim, sorri, tenta, erra, insiste, acerta. Em cada gesto dela há uma ponte sendo construída entre dois países, duas culturas, dois modos de sentir.


E existe também Nishimoto, aluno veterano, que diz com orgulho que sua palavra favorita em japonês é “arigatô”. Uma palavra simples, mas que carrega universos: obrigado em português, gracias em espanhol, aguyje em guarani. Em uma única palavra, cabem quatro povos, quatro histórias, quatro jeitos de agradecer. Talvez seja esse o maior símbolo da Escola Japonesa de Amambay: o encontro de mundos que se entendem pela alma antes mesmo de se entenderem pela língua.


Em cada sala, cada caderno, cada sorriso tímido de criança que pronuncia pela primeira vez um “ohayou”, vive a certeza de que a escola não é apenas um lugar de ensino — é um monumento vivo à memória de quem lutou para conservar um legado. É a prova de que fronteiras não dividem; elas conectam.


E assim, há quase sete décadas, a Escola Japonesa de Amambay segue firme, tecendo histórias entre idiomas, culturas e gerações — porque enquanto houver alguém dizendo arigatô, nada do que foi construído ali será esquecido

 
 
 

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